Não preciso ir ao psicólogo

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Robert Johnston
Não preciso ir ao psicólogo

Quem mais, quem menos, estaremos neste mundo por cerca de 75 anos. Um dia tem 24 horas, portanto, um ano tem 8.760 horas, o que soma um total de 657.000 horas de vida.

Luisa sente um pequeno desconforto no pé. De vez em quando, quando anda, sente uma picada, mas deixa estar. Com o tempo, a picada continua a doer cada vez mais, mas ele se acostuma com aquela dor achando que vai passar. Passam-se três anos e o marido de Luisa percebe que ela está mancando um pouco, ela percebe naquele momento que está com dor no quadril, e vai ao médico. O diagnóstico é moderadamente grave, e Luisa precisa ser operada e ficar de muleta por um ano.

Se levarmos isso para o mundo da saúde mental, acho que é perfeitamente compreendido. Estamos acostumados a suportar dores psíquicas, além do mais, temos muitas estratégias mentais para lidar com elas. No caso da Luísa, se trocamos a perna, para ... a Luísa caiu um dia ... o fim da história, a muleta, vira remédio.

Mas hoje ainda há uma grande diferença entre o enorme valor e atenção que damos à nossa saúde física e o medo, preconceito e tabu que existe em relação a doenças psicológicas ou emocionais.

Na história de Luisa, se a enfermidade fosse física, é provável que ela fosse ajudada por parentes ou estranhos, eles lhe dariam a posição no ônibus, se preocupariam com a situação dela, iriam acompanhá-la a lugares onde ela não pudesse vá sozinho, etc..

Porém, se ele reclamar de ansiedade, tristeza, desânimo, culpa, pode acontecer que seu ambiente exija que ele saia daquela situação com expressões como "felizmente você não tem nada físico", "se você tem tudo, não reclame" , "que eles são um absurdo seu", "você está aqui de novo", e julgamentos sem fim em relação a essa pessoa sem entender que uma doença psíquica ou da alma pode se tornar muito mais limitante e dolorosa do que física, uma vez que o problema mental não resolvido vai ser violentamente expresso através do corpo através de nossas emoções expressas ou não expressas.

E, claro, dada a falta de aceitação e compreensão de ver as doenças mentais como algo normal, as pessoas tendem a escondê-los, fazendo deles nosso segredo, porque temos medo de mostrar o que nos torna fracos, muitas vezes com fachadas que mostram o contrário.

É comum ouvir na consulta "Não conto para ninguém que vou ao psicólogo". Felizmente, tudo isso está mudando aos poucos. A seguinte pergunta vem à mente ... Somos fracos? Vou tentar responder.

Você tem que entender que de uma forma ou de outra os problemas de ansiedade, depressão, preocupações, etc. Não são “culpa nossa”, afinal, as “desordens” nascem de irmos além da média do que se espera de uma sociedade..

Uma sociedade espartilhada, rígida e muito exigente, na qual a confusão entre o que é realmente necessário e o que tem valor, criou necessidades e expectativas que muitas vezes estão por um fio e estão distantes de tantas realidades em que vivemos. E aqui aparece o conceito de Felicidade, Parece que estamos na era de encontrar a felicidade.

Você já parou para pensar como isso é difícil? Convido-vos a reflectir profundamente sobre quais são as características da Felicidade que procuram fazer-nos acreditar e encorajo-vos a pensar no seguinte: “A felicidade já existe, não depende de nada, já existe” temos apenas que mudar nosso sistema de valores e expectativas. Dentro de tudo isso, logicamente, sem que queiramos ou procuremos, há uma linha tênue entre ter preocupações e não tê-las, e um excesso disso levará a ansiedades, desânimo e frustrações.

É absolutamente normal passar por momentos difíceis e ter uma “crise” sem ela não haveria crescimento, cada “crise” é portanto uma experiência vital que pode nos ajudar a melhorar. Poderíamos dizer que as crises são grandes oportunidades para quebrar todo aquele sistema de crenças e rotinas em que estou imerso e dar um passo em direção a uma maior amplitude de mim mesmo, um passo em direção à liberdade. E um fato, a liberdade tem pouco a ver com esse conceito abstrato de felicidade.

E como a psicologia pode ajudar?

A única coisa que a psicologia oferece é que o sofrimento das pessoas é o mínimo possível nesses estágios de mudança e crise. Decidir ir para ajudar em um determinado momento pode poupar muito sofrimento a longo prazo.

Eu mostro dois fatos interessantes aqui:
40% da população espanhola sofre de ansiedade ou depressão e apenas metade é tratada. A taxa de suicídio está em ascensão, atingindo seu maior recorde em 2014, com 10,7 suicídios por dia, um total de 3.970 suicídios no ano.

O que quero dizer com isto?

As dores emocionais e psíquicas estão aí e são mais frequentes do que parece. Baixo humor, frustrações etc. fazem parte da nossa sociedade, bem como outros problemas de saúde.

O que acontece depois?

A saúde mental ainda não é considerada saúde, ou pelo menos não está à altura de outros tipos de saúde. Uma pessoa pode realmente gastar mais dinheiro em um dentista em sua vida do que pensar em ir a um psicólogo se tiver um problema. A tendência vai ser para aguentar, eu aguento essa situação.

Aqui eu coloco duas questões finais.

Por que, sendo capazes de estar bem, decidimos suportar o sofrimento?

Se vamos viver 657.000 horas na nossa vida, porque não dedicar 10 dessas horas (sessões) a investir para que o resto das horas da minha vida sejam melhores e de maior qualidade?

Perceba que só há uma oportunidade, de verificar com curiosidade e amor se vou conseguir me construir como outro tipo de pessoa, mais livre de dores, mais espaçosa. Essa única oportunidade é o tempo que estaremos neste planeta, esses 60-80 anos ...

Há pessoas que, por vergonha, orgulho, crenças rígidas, desconfiança, decidirão viver o seu tempo na terra da mesma forma, isso lhes dará segurança. Convido você com este texto a se dar essa oportunidade e tempo para entender o que está acontecendo com você e viver mais leve e isso requer uma tremenda responsabilidade, coragem e acima de tudo amor.


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